“Quem
luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em
monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também
olha para dentro de ti”
- Nietsche.
Fui
acordado na manhã da segunda-feira com uma dor de cabeça infernal, latejante,
produto de um pesadelo cuja realidade aparente e cruel só poderia ser medida
por supercomputadores. Eu tinha me visto no programa do Faustão, massacrado
impiedosamente por olhares carnívoros de uma plateia integralmente composta por
advogados e advogadas com insaciável sede de injustiça e juízes vestidos com
uma roupa preta engraçada que lembrava bruxos. Enquanto isso, a Cláudia Leite,
vestida de galinha pintadinha, cantava a música “Go to hell”, do roqueiro Alice
Cooper, enquanto os causídicos, todos sem paletó e gravata, acendiam velas
vermelhas, e reivindicavam a volta da inquisição, tanto quanto a da guilhotina.
A
coisa estava muito feia: eu havia sonhado que os juízes marcavam audiências com
intervalos de cinco em cinco minutos entre uma e outra, e sempre chegavam
atrasados no local de trabalho, que frequentavam apenas duas vezes por semana
e, pior ainda, durante os diálogos, comportavam-se como alienígenas, na medida
em que diziam um monte de coisas que ninguém entendia.
Eu havia
sonhado que os desembargadores iam apenas uma vez por semana nos tribunais e
compareciam nas sessões de julgamentos sem a prévia leitura das questões e
teses defendidas pelos litigantes.
Eu havia
sonhado que em todos os processos judiciais os advogados davam um jeitinho de
inventar fatos para pedirem indenização por danos morais em proveito dos seus
clientes que sequer sabiam o que isso significava e, por isso, os juízes andavam
estressadíssimos porque não aguentavam mais tanta falsificação processual, tanta
vitimização, tanto abuso e tanta mentira.
Eu
sonhei que os juízes estavam delegando aos servidores a elaboração de todas as
decisões que eles, e apenas eles, deveriam tomar.
Eu
sonhei que havia juízes que levavam anos para decidir os casos que lhe eram
submetidos e, depois, o tribunal anulava a sentença, dizendo que ela estava
desfundamentada, e mandava o mesmo juiz julgar de novo o caso, o que não
ocorria por um tal de “motivo de foro íntimo”.
Eu
sonhei que havia muitos parentes de juízes que ingressavam nos tribunais sem
concurso público e ocupavam cargos de direção com salários superiores àqueles
pagos aos próprios magistrados.
No
estertor, eu tinha sonhado que a OAB conseguiu alterar a estrutura dos
tribunais. Por tal golpe de misericórdia, um quinto seria, doravante, reservado
para juízes, e o restante das vagas seria preenchida apenas por advogados,
obedecidos critérios alternados de bajulação e enriquecimento.
Aqueles
capítulos de sonhos provocaram em mim uma sensação crescente de asfixia. Graças
a Deus, o celular tocou: __ “Filim, faz uma semana que ocê num liga prá mamãe. Num vai mi dizê cocê está com depressão de novo?”. Eu pensei: __
Minha mãe não sabe das coisas. Ela é tão feliz, coitada! Nem azia ela nunca
teve. É porque ela nunca precisou de advogados nem de tribunais.
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